Me chamo Marcos Paulo, sou negro, tenho 43 anos, sou natural do Rio de Janeiro e moro em Belo Horizonte há 40 anos.
Sou casado, tenho 3 filhos, sou profissional de logística e apaixonado pela vida.
Hoje trago um tema que assusta parte da sociedade, o racismo, um preconceito racial que já deveríamos não mais tratar, deveria simplesmente não existir, afinal somos todos iguais.
Infelizmente esse tema não deixa de ser citado pelo mundo, recentemente tivemos o caso do atleta brasileiro Vinícius Júnior estampado por todas as mídias, mais uma triste cena de horror propagada pelo ódio de parte das sociedades, que se superestima pela tonalidade clara da pele, parte essa de uma sociedade doente que replica esse ódio e compartilha como ensinamento aos seus próximos, assim o racismo se fortalece todos os dias, sendo ele velado ou explícito, mas sempre causando dor e tristeza para quem sofre.
Sofrer racismo ou qualquer preconceito, seja ele por raça, religião, orientação sexual, classe social, deficiência física ou outros, fere a alma, fere a autoestima, fere a dignidade e gera angústia para que sofre, o mundo merece atos de mais amor e menos ódio, respeito acima de tudo.
Eu Marcos Paulo já sofri na pele o desdém racial velado e explicito.O que eu fiz?
– Bom, confesso que poderia ter feito diferente, ter comprado uma briga de militância, poderia ter levado a forças maiores, esferas maiores de combate ao racismo, más não o fiz, pensei, repensei e busquei meu espaço com igualdade, me preparei, relutei e mostrei no campo pessoal e profissional, que eu sou um NEGRO com muito orgulho, mas a tonalidade da minha pele não me faz menor que uma pessoa branca, tenho ideais, tenho capacidade de pensamento estratégico, tenho inteligência como qualquer ser humano e parafraseando nosso querido Zagallo, tiveram que me engolir.
Em nenhum momento me vitimizei, não condeno quem aja dessa forma, eu quis mostrar as pessoas preconceituosas, que eu era capaz, consegui minha formação acadêmica, busquei minha especialização, saí do campo de um menino NEGRO periférico, para um homem NEGRO com suas conquistas.Saí do campo de um ajudante NEGRO de cargas para um hoje sócio de uma transportadora, o que isso significa?
– Para mim significa acreditar em seus sonhos, acreditar na sua capacidade, acreditar em você, acreditar que o seu caminho sempre será mais difícil, más a vitória virá por sua integridade, por sua autoestima, por sua honestidade e perseverança, passando a ser exemplo para aqueles que compactuam de sua dor e não jogando na cara de ninguém sua vitória, mas buscando seu espaço com igualdade e respeito.
Dizer ou ignorar o racismo como inexistente no dia a dia é utopia, ele existe e é muito mais forte que se possa imaginar. Na minha sala de Pós Graduação, tinha apenas eu como pessoa NEGRA. Ali era formação de grandes gestores, me encontrei em dificuldades, até mesmo, para me aceitarem nos grupos de trabalho. Porém, isso não me preocupava, sabia que eu deveria ter o melhor resultado da classe para lá na frente me encontrar com essa turma em pé de igualdade. Já sofri racismo de muitas formas, em entrevistas de emprego, em shopping, em lojas, farmácias e outros lugares. Entendo que nem sempre é por maldade, é algo enraizado na nossa sociedade.
Imaginem, eu com um carro de alto valor buscando minha esposa BRANCA em um salão de beleza, quando um colaborador do local que também era NEGRO, diz para que o motorista colocasse o carro mais próximo a saída da cliente, que era minha esposa, e neste caso o motorista era eu, o marido.
É triste ver um NEGRO que se coloca nesta posição, de pensar que seremos somente serviçais, que não podemos estar em um carro melhor, morar em um bairro melhor, ter uma boa casa, poder viajar para lugares legais, ser e ter tudo aquilo que qualquer ser humano deveria viver.Na minha opinião o preconceito é uma doença, uma doença com mais força que uma pandemia, uma doença silenciosa que fere e mata muitas pessoas todos os dias, uma doença que deveria acabar, ou melhor, nunca ter existido.
Sou o Marcos Paulo, um cidadão NEGRO com orgulho e com muita esperança de dias melhores!!!
Nós do SAEMG, trouxemos um depoimento de um cidadão negro para retratar um pouco da sua luta e dificuldades do dia a dia. Ressaltamos que o texto representa a opinião subjetiva do autor e, por ter lugar de fala, foi respeitado e publicado na integra. O nosso objetivo é o de levantar um debate, respeitando todas as opiniões, mas com o propósito único de repudiar todo tipo de discriminação.
