Uma das principais razões pelas quais as pessoas se apropriam de fake news como verdade se deve certamente ao fato de que elas querem acreditar ou já têm essa verdade incrustada
Uma das principais razões pelas quais as pessoas se apropriam de fake news como verdade se deve certamente ao fato de que elas querem acreditar ou já têm essa verdade incrustada. E essa razão principal destrói qualquer possibilidade de iniciativa para controle desse fenômeno, ou seja, de alguém que queira adotar providência acerca dessa desinformação.
A verdade é que as redes sociais empoderaram pessoas/grupos até então relegados a consumidores de conteúdo via mídias tradicionais. A estrutura do ambiente digital permite essa propagação de informações, que não são necessariamente verdadeiras e confundem a opinião do público de forma mais sistemática, planejada e estruturada. Às vezes, a notícia até é verdadeira, mas é repassada com o contorno da desinformação.
“A expressão fake news tem sido utilizada de forma irresponsável e deliberada, e ela não dá conta do fenômeno que temos assistido e que está muito mais associado a um ecossistema de desinformação do que necessariamente a uma propagação de uma informação que não é verdadeira”. É o que afirma a professora Cândida Nobre, doutoranda em Estudos da Mídia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
A professora cita cinco pilares tidos como importantes a ser analisados, relacionados ao ecossistema da desinformação e que coadunam com o que temos vivenciado ultimamente.
“Primeiro, tem o fato de que as pessoas se transformaram em produtores de conteúdo, aliados a isso vieram os canais de distribuição em massa na rede, a exemplo do WhatsApp, Facebook, Instagram. Mais canais, mais alcance e um grande impacto na vida das pessoas. Com o acesso irrestrito à internet por todos, houve uma democratização da produção, mas não uma democratização da apuração de uma notícia”, explica a professora.
Mas, o que fazer então? Precisamos resgatar a cultura da verdade, aquela baseada em fatos concretos, em números, fontes confiáveis, em canais onde se produz conteúdo jornalístico atento, apurado. Qual a saída? A professora Cândida Nobre responde: “Como professora-pesquisadora, só vejo a educação como saída. E essa educação demanda tempo e esforço”.
É preciso pensar além. Tanto quanto a importância da educação tradicional no ambiente escolar se torna eficaz em ambientes diversos, ouvindo a todos, compartilhando informação sobre os efeitos da desinformação. É preciso abrir espaços de debate, sem nos deixar ser ‘ameaçados’ por esses produtores de fake news. É preciso mostrar a essa geração atual os malefícios, o desgaste que só gera mais desgastes. É essa geração que vai ensinar a próxima. Eu tenho fé que a próxima já cresça com a cultura da verdade como prioridade.
Uma medida simples, e que se pode começar já, seria dizer apenas ‘não quero receber’. Ou dar ‘unfollow’, bloquear, sair desses grupos, É preciso inibir na fonte. No mínimo, vai encher o saco e quebrar correntes de fake news. Eu poderia até falar em consciência, mas as pessoas que consomem notícias falsas, a grande maioria tem, mas parecem adorar o tal ‘moído’ que esse conteúdo provoca.
Em uma segunda etapa, não ter medo. Em pleno Século 21, as pessoas estão demonstrando medo. Repito medo em compartilhar a verdade. Acreditam nisso? Sofrendo bullying virtual, familiar e por parte dos ‘melhores amigos’. Minha gente, vamos acordar porque o despertador já está tocando há muito tempo. Vamos continuar atrasados nessa guerra? Espero que não.
5 milhões de fake news compartilhadas e o WhatsApp é quem manda na internet
Na terra em que o conteúdo é rei, quem manda mesmo é o WhatsApp, tendo como combustível, as fake news. É fato! Relatório Brasileiro de Segurança Digital, referente ao terceiro trimestre de 2018, revela um crescimento de7% (em relação ao segundo trimestre) de notícias falsas, tendo como principal canal disseminador, ele, o WhatsApp. Foram quase 5 milhões de fake news compartilhadas. É muita desinformação, e preocupa. Entre julho e setembro, foram 52,4 mil detecções por dia, uma média de 2,1 mil por hora.
Estamos desperdiçando tempo, horas incontáveis, checando fake news. Em uma manhã dessas, irritada, fiquei me perguntando: “’Véi’, esse pessoal precisa parar de produzir, compartilhar e até incrementar fake news”. As pessoas estão criando realidades paralelas em um ecossistema que chamo de WhatsApp dark, com parentesco direto da dark web. Em linguagem mais popular, a dark web é o lado sombrio da internet, assim como o WhatsApp tem o seu lado dark, impossível de rastrear produtores e grupos criados apenas para disseminar fake news.
Produzido pelo dfndr lab, laboratório da PSafe especializado em cibercrime, e divulgado em maio deste ano, a pesquisa entrevista mais de 35 mil brasileiros. O resultado: 85% recebem correntes pelo WhatsApp ou Facebook Messenger e 64,6% foram impactadas por informações falsas nessas correntes. Se você ainda não está preocupado, é hora de reavaliar e começar a pensar em como reverter esses números.
O relatório de segurança mostra o que já era previsível: o tópico política foi o grande destaque. Entre todas as detecções realizadas no período, 46,3% estão relacionadas ao tema. As eleições brasileiras, realizadas em outubro de 2018, contribuíram para o aumento das divulgações de fake news no terceiro trimestre do ano. Foram mais de 2,2 milhões de detecções de fake news sobre o assunto.
Para se ter uma ideia, só em julho – mês em que foram realizadas as convenções para escolha dos candidatos – foram 2,3 milhões de fake news disseminadas. As regiões com mais detecções foram Sudeste (1.991.841), tradicionalmente berço da direita e extrema direita partidária, e no Nordeste (1.204.232), tida como abrigo da esquerda no País. Não à toa, o Tribunal Superior Eleitoral instituiu um Grupo de Trabalho (GT), que tem o objetivo de elaborar propostas de novas linhas de atuação da Corte sobre desinformação e eleições.
Nota – O dfndr lab, laboratório de cibersegurança da PSafe, que utiliza técnicas de inteligência artificial e machine learning e conta com um time de especialistas em segurança digital. Os dados do relatório são gerados pelas detecções de ciberataques aos smartphones Android dos mais de 21 milhões de usuários do aplicativo de segurança dfndr security. Por meio de uma aplicação pioneira da tecnologia anti hacking, o app é capaz de checar links maliciosos em aplicativos de mensagens e redes sociais e identificar se pode ser golpe ou fake news.